A discussão mais acalorada do COBEM 2012, até agora, ocorreu nesta manhã, no Auditório Rebouças. O tema do debate foi “A avaliação do egresso pelo CREMESP”
e contou com o Dr. Renato Azevedo, presidente do CREMESP, o Dr.
Maurício Braz Zanolli, coordenador da regional de São Paulo da ABEM, Dr.
Carlos Vital Corrêa, vice-presidente do CFM e Klaus Nunes Fisher,
representando o Direção Executiva Nacional de Estudantes de Medicina –
DENEM.
O presidente do CREMESP, Dr. Renato
Azevedo, iniciou seu discurso dizendo de antemão que “um exame de ordem
deve ser decidido pela sociedade e levado ao Congresso Nacional e requer
uma grande transformação nas leis que regulamentam a profissão. Isso
está longe de acontecer.”
Em 2005, o CREMESP realizou o primeiro
exame, que não tinha caráter obrigatório. Hoje, sete anos depois, o
exame tem caráter obrigatório de ser realizado para que se obtenha a
licença para exercer a profissão. Não é um exame classificatório e nem é
necessária a aprovação nele para poder trabalhar como médico, é preciso
apenas realizá-lo. O que movimenta a polêmica é o fato de que um teste
como esse, ao final do curso e simplista, não tem a capacidade de
avaliar de forma fidedigna a situação dos novos profissionais e também
não proporciona melhorias ao ensino médico.
Renato Azevedo expôs sua análise em relação aos principais problemas encontrados nas escolas médicas do Brasil: projetos
pedagógicos inadequados, corpo docente insuficiente e despreparado,
campo de ensino sucateado, turmas com grande número de alunos, ausência
de vagas de residência médica para todos, escolas que cobram
até 8 mil reais de mensalidade e não retornam o serviço em forma de
ensino de qualidade e a ausência de avaliação eficiente dos alunos de
medicina pelas faculdades.
Em relação à cobrança de altas mensalidades e o atual panorama da educação médica, ele falou que:
“O que as escolas têm feito é uma espécie de estelionato, em que altos valores têm sido cobrados e o serviço não tem sido oferecido. Nesse sentido, o governo precisa intervir.” - Renato Azevedo – CREMESP
Azevedo acrescenta ainda que há um lobby
das universidades particulares junto ao MEC para aprovação de cursos de
medicina feito em cima de projetos pedagógicos terceirizados, visando a
criação de cursos rentáveis. Uma clara mercantilização do ensino e da
saúde.
O exame
Ele é composto de 120 questões
nas áreas de pediatria, ginecologia e obstetrícia, clínica médica,
clínica cirúrgica, saúde coletiva e epidemiologia, saúde mental,
ciências básicas, bioética e ética médica. O exame tem caráter obrigatório
para a obtenção de registro no estado de São Paulo. É feito pela
entidade Carlos Chagas e não tem função classificatória, visando
unicamente avaliar o conhecimento dos egressos. No último exame, o
índice de candidatos considerados “inaptos” foi de 46,5%, segundo
Azevedo, que diz que e a prova demonstrou que existem ineficiências no
ensino médico. O CREMESP considera aprovado aquele que acerta mais de
60% da prova.
Em relação à obrigatoriedade, ele diz
que o exame voluntário tem suas limitações, por isso o caráter
compulsório da prova foi instituido a partir de agora. Esse exame teria,
segundo o presidente do CREMESP, duas funções básicas:
1. Avaliar com dados objetivos o atual estado da formação médica em São Paulo.
2. Provocar discussão na sociedade brasileira sobre a formação médica no Brasil.
O coordenador regional de São Paulo da
ABEM – Associação Brasileira de Escolas Médicas, Maurício Zanolli,
protagonizou o outro lado dessa discussão, dizendo que instituir a obrigatoriedade à realização do exame vai contra os princípios democráticos.
Ele mostrou dados que mostram um aumento de 32% no número de médicos de
2001 a 2011 e um aumento muito maior no número de processos éticos
contra médicos no mesmo período, de 128%. Porém, desbanca esse argumento
dizendo que o número de médicos julgados culpados e penalizados caiu de
24% em 2001 para 14% em 2011. Dessa forma, reforçou ele, o que tem
acrescido é o acesso à denúncia e não as infrações éticas profissionais.
A população tem sido mais pungente em exigir do médico determinadas
atitudes e, quando não atendidas, seu caminho de protesto é acessando o
CRM. Isso não pode refletir o declínio da qualidade da medicina, não é
um parâmetro claro.
“O médico que se forma numa
faculdade ruim hoje, ainda é melhor do que aquele se formou na mesma
faculdade ruim há 15 anos. O problema é a falta de atualização médica. O
exame do CREMESP não fará nada em relação a esse processo.” – Maurício Zanolli – ABEM.
Ele completou seu racicínio contrário à implantação do exame dizendo que testes como esse contam a habilidade factual – a memória, e não a habilidade profissional.
E defendeu que exames avaliativos devem, sim, ser feitos, mas de
maneira seriada ao longo do curso de Medicina, com pelos menos 3 fases,
sendo uma delas de atividades práticas. Reforçando seus argumentos,
apresentou um artigo do British Journal of Medicine, de autoria
de Ceer Van der Vleutem. O autor diz que exames únicos ao final do
curso não são capazes de avaliar a real situação do avaliado.
“Deve existir um exame que estimule o estudante a construir conhecimento e não a decorar dados para responder a uma prova.” - Maurício Zanolli – ABEM
Os estudantes foram representados por
Klaus Nunes Fisher, do DENEM. Ele disse que “o exame do CREMESP é uma
prévia do exame de ordem”. Analisando a progressão do exame, de 2005,
quando era voluntário, a 2012, sendo já obrigatório, sugere que a
progressão natural desse processo seria a criação do exame de ordem para
medicina e que não estamos longe disso. Sobre as demandas da educação
médica, referiu que:
“É necessária uma atuação mais assertiva do MEC em relação à abertura de escolas médicas. (…) É importante avaliar as escolas continuamente, devendo serem cobradas e punidas, mas terem também o direito de corrigir suas deficiências. As entidades médicas precisam se posicionar para melhorar as condições de trabalho médico e o governo precisa cumprir seu papel em avaliar a educação. ” - Klaus Fisher – DENEM
O vice-presidente do CFM, Carlos Vital
Corrêa Lima, quando questionado a respeito do exame do CREMESP e à
possível união das entidades nesse sentido, foi pontual:
“O CFM não aprova esse projeto de união.”
http://academiamedica.com.br/o-exame-de-ordem-para-medicina-sera-realidade/
No comments:
Post a Comment