O terceiro
palestrante foi Itágores Lopes Souza Coutinho Hoffmann, atual
coordenador do curso de medicina da UFTO que relatou a experiência de
implementação do internato em uma instituição sem hospital escola
próprio. Segundo ele, foi definido um estágio obrigatório de dois anos
que contempla as quatro grandes áreas (Pediatria, Ginecologia,
Obstetrícia e Cirurgia) e outras três que a instituição julga
serem necessárias para formação completa do profissional médico:
Urgência e Emergência, Medicina de Família e Comunidade e o Internato
Rural. O processo de elaboração e implantação contou com uma Comissão de Internato, composta por docentes de todas as áreas.
“Preconizamos o internato rural, pois o internato não pode desconsiderar a região em que está inserido.”
O coordenador apontou que a definição de quem seriam os preceptores foi um dos maiores desafios. Afinal, os preceptores deveriam ser profissionais que já estavam presentes nos serviços.
Ou seja, era preciso convencer o médico a realizar a supervisão
acadêmica e realizar a capacitação deste profissional para a docência. A
universidade contou com um curso da ABEM para realizar a capacitação e
do Grupo Hospitalar Conceição de Porto Alegre no âmbito da Medicina e
Família e Comunidade.
Segundo
Itágores Hoffmann, era preciso assegurar também a valorização
profissional. Assim, foi criado pelo Governo Federal o Pró-Internato,
projeto que tem como objetivo assegurar recursos para os cursos que não
têm hospital próprio oferecendo bolsas para os docentes. Além desse projeto, a UFTO recebeu também um apoio financeiro do Governo Federal destinado às escolas sem hospital,
e proporcional ao número de alunos. A instituição optou por oferecer
bolsas para os preceptores distribuídas por concursos descritos em
editais referentes a cada grande área do internato.
Em
seguida, Gustavo Fraga, coordenador da disciplina da cirurgia do trauma
na UNICAMP falou sobre o ensino da urgência e emergência na graduação.
Afirmou que a grande preocupação diz respeito aos médicos recém-egressos
que não seguem para a residência e optam por trabalhar com a urgência e
emergência. A dúvida, para o docente, é se a escola médica está dando
uma boa formação para esses profissionais. Como exemplo, citou o
resultado da prova do CREMESP de 2006, na qual apenas 40% dos recém-egressos sabiam tratar adequadamente um caso de traumatismo torácico.
Segundo o
coordenador da UNICAMP, as Diretrizes Curriculares Nacionais são
bastante superficiais sobre a descrição do que deve ser ensinado na
graduação. Em um questionário respondido pelos coordenadores de curso da
medicina de cerca de 40% das 169 escolas consultadas, os resultados
demonstraram que existem grandes divergências no ensino da Urgência e
Emergência ente as escolas. Das instituições participantes, 9%
responderam que não oferecem atividades teórico-práticas em Urgência e
Emergência na estrutura curricular. Quanto a temáticas pontuais, 92%
disseram ensinar a abordagem ao paciente com parada cardiorrespiratória e
86% a conduta em caso de hemorragia. Enquanto, no caso do
trauma, um dos maiores causadores de óbitos no Brasil, 20% das escolas
afirmaram não possuir o tema no programa de ensino.
Para
Gustavo Fraga, os campos de treinamento acadêmicos podem ser muito
diversificados e compreender cenários como pronto socorro, laboratório
de habilidades, SAMU e até mesmo as UPAS. Porém, o que vemos são locais inadequados ao ensino, com ambientes sempre lotados, com falta de preceptores
e falta de laboratórios. E sendo o treinamento continuado fundamental
para atuação junto à Urgência e Emergência, é preciso um número ainda
maior de profissionais que sejam capacitados para a docência nesta área.
Fraga relembrou os quatro projetos da ABEM 50 anos que compreendem: o teste de progresso, as formas de avaliação, o internato médico e o ensino de Urgência e Emergência. Assim, todas as escolas médicas devem estar atentas, pois podem fazer parte da formulação destes projetos com um representante docente e um discente.
“As Diretrizes Curriculares Nacionais preconizam a formação do generalista. E eu, enquanto estudante de medicina, estou inserida entre os quatro muros do hospital universitário.” – Diz a acadêmica Raquel Carvalho de Souza.
Segundo ela, a aderência precoce do estudante de medicina aos cursinhos para a residência
influencia diretamente no aproveitamento das atividades propostas para o
internato. Afirmou ser comum ver acadêmicos que priorizam o estudo
focado para as provas de residência a invés da formação de habilidades e
competências desenvolvidas no período do estágio obrigatório.
Raquel de Souza apontou, ainda, os conflitos da convivência entre internos e residentes na mesma área de prática.
Questionou quais as atribuições específicas do interno e do residente
dentro do funcionamento do serviço de saúde. Segundo a acadêmica, a
disputa pela execução de procedimentos e atuação tem origem
principalmente na qualidade do estágio obrigatório que o recém-egresso
vivenciou. Com isso, o profissional que se forma sem ter desenvolvido
habilidades básicas à formação do generalista como, por exemplo, a
realização de partos normais de baixo risco, chegará à residência
querendo desenvolver estas competências e disputará espaço com os
internos as práticas do serviço. Dessa forma, se houvesse uma
regulamentação comum para o internato no país haveria uma distinção mais
clara na atuação de internos e residentes.
http://academiamedica.com.br/as-mazelas-do-internato-medico/
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