Pelo menos dois casos suspeitos de infecção por KPC ocorreram entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013 em Londrina. Hospital onde as mortes foram registradas
classifica as ocorrências como "casos isolados"
A idosa Maria Rosa Chimazaki
escorregou no piso do restaurante da família e fraturou o fêmur. Para
tentar minimizar as sequelas, passou por uma operação. Pouco menos de um
mês depois de dar entrada no hospital, Maria morreu de parada cardíaca
na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Caso semelhante ocorreu com Setsuko Enokida. A idosa foi encaminhada para um tratamento de saúde, entrou lúcida e consciente, mas morreu depois de duas semanas na UTI.
As duas mortes foram registradas no Hospital Evangélico de Londrina
no mesmo período, entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013. De acordo
com os familiares dos pacientes, os óbitos podem ter relação à infecção
por bactérias multirresistentes como a KPC. Os casos, porém, não foram
contabilizados pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de
Saúde de Londrina.
De acordo com a gerente de Epidemiologia da pasta, Sandra Caldeira,
o município não conta com estatísticas sobre mortes causadas por
infecções em hospitais. “Tentamos implantar um boletim, mas não tínhamos
servidores especializados para isso”, revelou. Segundo Sandra, essas
mortes não são obrigatoriamente comunicadas pelos hospitais à
secretaria.
Diferente de casos de óbitos por dengue, meningite, coqueluche, entre
outras doenças que precisam ser comunicadas imediatamente à Vigilância
Epidemiológica, as mortes por infecção nos hospitais não são
encaminhadas. “Cada hospital tem sua própria comissão de combate à
infecções, que deve repassar esses dados à Secretaria Estadual de
Saúde”, disse Sandra.
Casos isolados
Para a supervisora da Comissão Interna de Controle de Infecção Hospitalar do Evangélico, Kátia Gomes Bruno,
as mortes citadas pela reportagem correspondem a casos isolados.
Segundo ela, vários fatores podem contribuir para o surgimento de casos
de morte por infecção em ambientes hospitalares.
“Clinicamente, o paciente de UTI é mais grave, mais debilitado. Além
de fatores próprios que podem levar à infecção, algumas doenças podem
colaborar para a infecção”, apontou. No caso de Setsuko, a doença
autoimune associada a um procedimento invasivo, como a instalação do
dreno pulmonar, complicou ainda mais a situação do paciente. “70% a 80%
de todos que entram numa UTI passam por procedimentos invasivos. Isso é
uma porta aberta para a entrada de agentes contaminantes”, explicou.
Segundo ela, todos os hospitais precisam ter protocolos para o
combate de infecções. Medidas como a higienização das mãos são cobradas
de todos os profissionais. “Isso é constante, já que as mãos são o maior
veículo de contaminação”, disse. No hospital, também são realizadas
ações periódicas de desinfecção dos espaços. “A limpeza ambiental, além
de necessária, é essencial para esse controle”, avaliou a supervisora.
“Tira ela da UTI, por favor”
A funcionária pública Regina Fugiko internou a mãe, Setsuko Enokida, para tratar de uma cirrose hepática autoimune no Evangélico. A idosa já havia passado por várias internações, e segundo a filha, deu entrada no hospital sem complicações. “Ela estava lúcida, comendo, falando, andando, fazendo tudo sozinha”, lembrou.Por causa da doença, Setsuko começou a apresentar acúmulo de líquido nos pulmões e precisou de um dreno. Depois desse procedimento, o estado de saúde da idosa piorou a cada dia. “A gente via ela piorando. Cheguei até mesmo a pedir para o médico ‘tira ela da UTI, por favor’, mas ela continuou lá. A cada dia ficou pior, até que morreu”, disse Regina.
A funcionária pública questionou o hospital sobre os procedimentos aplicados no tratamento da mãe, mas não ficou satisfeita com a resposta. “Me disseram que o prontuário só é liberado judicialmente. Isso é muito triste, porque eu só queria saber o que causou a morte dela, queria uma explicação.”
“Não estou procurando culpados”
O comerciante Marcelo Yukio Chimazaki levou a mãe, Maria Rosa Chimazaki,
ao Evangélico para engessar a perna após uma fratura. Após a cirurgia
de reparação do fêmur, Maria teve uma piora súbita no estado de saúde.
“Tivemos a impressão de que usaram um remédio errado para estabilizar a
pressão dela. Minha mãe teve um princípio de derrame”, comentou.
O quadro evoluiu para uma parada cardíaca. A suspeita é de que a idosa
tenha contraído a bactéria KPC. “Fui conversar com os médicos, mas
ninguém assumiu que ela pudesse ter sido contaminada. Ela entrou com uma
perna quebrada e morreu por uma parada cardíaca, como pode acontecer
uma situação dessas?”, questionou o comerciante. “Não estou procurando
culpados, não quero dinheiro nem indenização. Quero apenas que o
hospital tome providências para que isso não aconteça de novo”,
desabafou Chimazaki.
http://www.jornaldelondrina.com.br/online/conteudo.phtml?id=1360534
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