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Sunday, 25 August 2013

Mortes por infecção hospitalar não entram nas estatísticas municipais

Pelo menos dois casos suspeitos de infecção por KPC ocorreram entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013 em Londrina. Hospital onde as mortes foram registradas 

classifica as ocorrências como "casos isolados"

A idosa Maria Rosa Chimazaki escorregou no piso do restaurante da família e fraturou o fêmur. Para tentar minimizar as sequelas, passou por uma operação. Pouco menos de um mês depois de dar entrada no hospital, Maria morreu de parada cardíaca na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Caso semelhante ocorreu com Setsuko Enokida. A idosa foi encaminhada para um tratamento de saúde, entrou lúcida e consciente, mas morreu depois de duas semanas na UTI.
As duas mortes foram registradas no Hospital Evangélico de Londrina no mesmo período, entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013. De acordo com os familiares dos pacientes, os óbitos podem ter relação à infecção por bactérias multirresistentes como a KPC. Os casos, porém, não foram contabilizados pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Londrina.
De acordo com a gerente de Epidemiologia da pasta, Sandra Caldeira, o município não conta com estatísticas sobre mortes causadas por infecções em hospitais. “Tentamos implantar um boletim, mas não tínhamos servidores especializados para isso”, revelou. Segundo Sandra, essas mortes não são obrigatoriamente comunicadas pelos hospitais à secretaria.
Diferente de casos de óbitos por dengue, meningite, coqueluche, entre outras doenças que precisam ser comunicadas imediatamente à Vigilância Epidemiológica, as mortes por infecção nos hospitais não são encaminhadas. “Cada hospital tem sua própria comissão de combate à infecções, que deve repassar esses dados à Secretaria Estadual de Saúde”, disse Sandra.
Casos isolados
Para a supervisora da Comissão Interna de Controle de Infecção Hospitalar do Evangélico, Kátia Gomes Bruno, as mortes citadas pela reportagem correspondem a casos isolados. Segundo ela, vários fatores podem contribuir para o surgimento de casos de morte por infecção em ambientes hospitalares.
“Clinicamente, o paciente de UTI é mais grave, mais debilitado. Além de fatores próprios que podem levar à infecção, algumas doenças podem colaborar para a infecção”, apontou. No caso de Setsuko, a doença autoimune associada a um procedimento invasivo, como a instalação do dreno pulmonar, complicou ainda mais a situação do paciente. “70% a 80% de todos que entram numa UTI passam por procedimentos invasivos. Isso é uma porta aberta para a entrada de agentes contaminantes”, explicou.
Segundo ela, todos os hospitais precisam ter protocolos para o combate de infecções. Medidas como a higienização das mãos são cobradas de todos os profissionais. “Isso é constante, já que as mãos são o maior veículo de contaminação”, disse. No hospital, também são realizadas ações periódicas de desinfecção dos espaços. “A limpeza ambiental, além de necessária, é essencial para esse controle”, avaliou a supervisora.

“Tira ela da UTI, por favor”
A funcionária pública Regina Fugiko internou a mãe, Setsuko Enokida, para tratar de uma cirrose hepática autoimune no Evangélico. A idosa já havia passado por várias internações, e segundo a filha, deu entrada no hospital sem complicações. “Ela estava lúcida, comendo, falando, andando, fazendo tudo sozinha”, lembrou.

Por causa da doença, Setsuko começou a apresentar acúmulo de líquido nos pulmões e precisou de um dreno. Depois desse procedimento, o estado de saúde da idosa piorou a cada dia. “A gente via ela piorando. Cheguei até mesmo a pedir para o médico ‘tira ela da UTI, por favor’, mas ela continuou lá. A cada dia ficou pior, até que morreu”, disse Regina.

A funcionária pública questionou o hospital sobre os procedimentos aplicados no tratamento da mãe, mas não ficou satisfeita com a resposta. “Me disseram que o prontuário só é liberado judicialmente. Isso é muito triste, porque eu só queria saber o que causou a morte dela, queria uma explicação.”
“Não estou procurando culpados”
O comerciante Marcelo Yukio Chimazaki levou a mãe, Maria Rosa Chimazaki, ao Evangélico para engessar a perna após uma fratura. Após a cirurgia de reparação do fêmur, Maria teve uma piora súbita no estado de saúde. “Tivemos a impressão de que usaram um remédio errado para estabilizar a pressão dela. Minha mãe teve um princípio de derrame”, comentou.

O quadro evoluiu para uma parada cardíaca. A suspeita é de que a idosa tenha contraído a bactéria KPC. “Fui conversar com os médicos, mas ninguém assumiu que ela pudesse ter sido contaminada. Ela entrou com uma perna quebrada e morreu por uma parada cardíaca, como pode acontecer uma situação dessas?”, questionou o comerciante. “Não estou procurando culpados, não quero dinheiro nem indenização. Quero apenas que o hospital tome providências para que isso não aconteça de novo”, desabafou Chimazaki.
http://www.jornaldelondrina.com.br/online/conteudo.phtml?id=1360534


 

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