São Paulo proíbe uso de jaleco fora do hospital
Médicos que desrespeitarem a lei estarão sujeitos a pagar multa de 174,50 reais
Em São Paulo, os médicos estão proibidos de usar jaleco fora do ambiente
de trabalho. Quem desrespeitar a lei estadual, publicada nesta
quinta-feira no Diário Oficial do Estado, está sujeito à multa
de 174,50 reais. O valor dobra em caso de reincidência. O objetivo é
impedir que os jalecos sirvam de fonte e veículo de transmissão de
micro-organismos.
Estudo —
Uma pesquisa publicada em setembro do ano passado pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) mostrou a presença maciça de
bactérias em jalecos médicos.
Foram analisados, por duas pesquisadoras,
48 alunos que utilizavam jaleco.
Os resultados foram alarmantes: 95,8%
estavam contaminados.
Entre as bactérias encontradas, havia a Staphylococcus aureus, principal responsável pelas infecções hospitalares.
Segundo o estudo, mangas e bolsos são as áreas mais contaminadas. O
estudo ainda levou em consideração a diferença entre o dia da semana.
Segundo o levantamento, os jalecos apresentavam maior quantidade de
micro-organismos na quinta-feira do que na segunda – o que indica que os
médicos utilizam a peça mais de uma vez sem lavar. Os pesquisadores
acrescentam que os micro-organismos podem sobreviver entre 10 e 98 dias
em tecidos encontrados em hospitais, como algodão e poliéster.
Maria Elisa Zuliani Maluf, coordenadora da pesquisa e professora
titular de Microbiologia da PUC-SP, afirma que outros materiais
utilizados por médicos também estão contaminados.
Um estudo mostrou que
90% dos estetoscópios, utilizados para auscultar o coração, estavam
contaminados.
Outra pesquisa indicou que os aparelhos celulares dos
médicos possuíam mais bactérias do que os celulares do restante da
população. "O uso do jaleco é uma questão de conscientização e de bom
senso. É preciso evitar a banalização dessa vestimenta e manter a
higienização", afirma.
A pesquisadora explica que o jaleco é considerado um equipamento de
proteção individual (EPI), que tem como finalidade de proteger o médico e
outros profissionais da área de medicina contra uma eventual
contaminação pelo paciente.
Na medicina, o avental branco é utilizado há pelo menos 100 anos. Ele
funciona como um símbolo de respeito, status e diferenciação entre o
médico e o paciente. No passado, os cirurgiões usavam aventais. Quanto
mais sujos com sangue, maior era o prestigio entre os colegas.
Repercussão —
Para Hélio Arthur Bacha, presidente do departamento de infectologia da
Associação Paulista de Medicina, essa lei não traz nenhum benefício e é
antieducativa. "Estamos discutindo paradigmas da infecção hospitalar.
Uma coisa é a prescrição de antibióticos irresponsavelmente e o impacto
disso no tipo de tratamento de um paciente. Mas não há nenhuma evidência
de que a roupa do médico seja um fator de infecção hospitalar em áreas
onde não há restrição", diz.
Renato Azevedo Júnior, presidente do Conselho Regional de Medicina do
Estado de São Paulo (Cremesp), concorda que não há comprovação de causa e
efeito. "Se fosse assim, o médico ficaria doente, o familiar do médico
também ficaria mais doente que a população geral", sugere. "Mais
importante do que criar uma lei como essa, é fazer uma campanha para que
os médicos lavem as mãos. Elas sim são as principais transmissoras de
bactérias", afirma Júnior.
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/sao-paulo-proibe-uso-de-jaleco-fora-do-hospital
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