Rosane de Oliveira:
"Greve não ajuda a causa dos médicos"
31/07/2013
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Os dois dias de greve dos médicos
podem ser importantes para chamar a atenção das autoridades, mas dificilmente
conseguirão atrair a simpatia da população, especialmente dos usuários do
Sistema Único de Saúde, que clamam por melhores serviços e penam por meses, às
vezes anos, para conseguir uma consulta especializada. Como explicar a um
paciente que sua consulta ou procedimento eletivo foi suspenso porque os
profissionais paralisaram as atividades em protesto contra a intenção do governo
de contratar estrangeiros para cidades onde os brasileiros não querem
trabalhar?
Os médicos têm razão quando reclamam da falta de estrutura das unidades
básicas de saúde, da carência de recursos nos hospitais, da insegurança nas
periferias das grandes cidades, do marasmo de viver em uma pequena cidade do
Interior. Será a greve o melhor caminho para melhorar esse quadro?
Quem precisa dos serviços de saúde e vive nesses lugares inseguros ou
remotos exige uma resposta do governo. Por isso, a maioria dos prefeitos aderiu ao
programa Mais Médicos. Como o número de profissionais dispostos a trabalhar 40
horas por semana em troca de uma bolsa de R$ 10 mil mensais ficou abaixo da
necessidade, o governo terá de recorrer aos estrangeiros. A greve só reforça
nos usuários a percepção de que faltam médicos – e que é melhor um estrangeiro
do que nada.
A demanda dos médicos por um plano de carreira semelhante ao de juízes,
promotores e defensores públicos é legítima. Afinal, é infinitamente mais
difícil entrar em um curso de Medicina do que em um de Direito. O curso de
Medicina é mais longo (e mais caro nas faculdades privadas). Só os concursos são
mais fáceis do que para as “carreiras jurídicas”, justamente porque os baixos
salários atraem poucos médicos. O
problema é como pagar vencimentos que variam de R$ 17 mil a R$ 24 mil para um
exército de médicos com dedicação exclusiva ao setor público. Essa conta
não pode ser ignorada com o discurso de que tudo se resolve com vontade
política.
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