CURSO DE INVERSÃO DE PAPÉIAS PARA
MOTORISTAS E COBRADORES
DEVERIA SER OBRIGATÓRIO
GLOBO REPÓRTER Motoristas viram idosos e sentem na pele as dificuldades
de pegar ônibus. Curso
criado por assistente social em Natal ensina a lidar com passageiros.
Viver mais não é novidade, o desafio é viver
melhor. Tem muito idoso que ainda sofre para garantir o direito básico de ir e
vir. Dona Cleusa em Natal sofre tentando pegar um ônibus. Ela precisou de ajuda
pra conseguir embarcar.
E olha que dona Cleusa não pode atrasar. Ela é
convidada especial neste curso para motoristas e cobradores. Eles aprendem a
lidar melhor com o passageiro idoso.
A ideia foi da
assistente social Maria Luíza Teixeira, que cansou de ouvir reclamações.
“O
idoso pede parada e ele finge que não vê. E há a freada ou arrancada brusca,
quando ele freia bruscamente, o idoso não se acomodou ainda e cai”, aponta ela.
No curso, os
papéis se invertam. Os motoristas e cobradores vão experimentar as dificuldades
de quem já envelheceu. Na simulação do que acontece no dia a dia, os
profissionais têm a oportunidade de sentir na pele as dificuldades que podem
surgir com o passar dos anos.
Eles
experimentam o peso da idade: usam caneleira que dificulta a caminhada, nos
braços também usam peso, óculos para dar a sensação de visão embaçada, que
muitas vezes o idoso tem, e também algodão no ouvido para dificultar a audição.
O motorista Gilberto Trindade conta como se
sentiu no lugar de um idoso: “Eu já tinha uma ideia, mas quando a gente se
veste assim, dá a mão para o ônibus e o motorista não para, isso realmente é
humilhante”.
Humilhante mesmo. Dona Cleusa lembra o dia que
tentou embarcar no ônibus e o motorista arrancou: “Caí. Vocês não queiram saber
o que é a pessoa cair assim no meio da rua com tudo. Menina, eu fiquei com a
vista escura o mundo virou assim”.
Alguns motoristas
dizem que as empresas pressionam, pedem para não transportar muitos idosos só
porque eles não precisam pagar a passagem. “Eu já trabalhei em São Paulo
e no Rio e sei o tratamento que eles dão lá para os idosos. O empresário dizia
quando a gente chegava com a viagem ‘trouxe quantos idosos?’. Eu trazia 10, 20,
eu dizia dois. Eu estou ali para transportar cada vez melhor”, diz o motorista
Manoel Osvaldo de Medeiros.
“A gente acredita que pode haver alguma pressão
para que eles sejam mais ágeis, mais ágeis no trânsito e, às vezes, a busca
dessa agilidade no trânsito pode acabar causando o constrangimento que a gente
via para os idosos”, afirma o procurador-geral de Justiça do Rio Grande do
Norte, Rinaldo Reis Lima.
Nada como se
colocar no lugar do outro.
“Eu sei a dificuldade que tem para o idoso subir e
descer do transporte coletivo. Então nós, todos nós, vamos ficar idoso”, aponta
Manoel.
O treinamento
começou há três anos.
De lá para cá, o
número de reclamações nas promotorias do idoso despencou.
“Isso realmente
modificou e hoje, em 2013, a gente não recebeu na promotoria nenhuma denuncia desse tipo”, conta a promotora de
Justiça Naide Pinheiro.
http://m.g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2013/09/motoristas-viram-idosos-e-sentem-na-pele-dificuldades-de-pegar-onibus.html
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