Do ponto de vista dos economistas, parece-me que há duas perguntas
relevantes a que podemos responder.
Primeiro, o Estado brasileiro gasta
pouco em saúde ou não?
Segundo, há evidência contundente de carência de
profissionais de saúde?
É bastante difícil saber o que é muito ou pouco. Uma forma simples é
comparar o gasto do Estado brasileiro com saúde como proporção do
produto com o gasto de outras sociedades, controlando-se pelo PIB per
capita. Isto é, o setor público brasileiro gasta mais ou menos do que
economias com renda per capita próxima à nossa?
O Banco Mundial divulga dados de gastos públicos em saúde como proporção
do PIB para uns 180 países. Divulga também o PIB per capita e a
proporção de idosos na população total.
Uma regressão simples dos gastos públicos em saúde como proporção do PIB
em função das duas variáveis --renda per capita e proporção de idosos
na população total-- sugere que nosso gasto é muito próximo da norma
internacional. Para um gasto médio do setor público no período 2007-2011
de 3,84% do PIB, o ajuste da regressão sugere que teríamos de gastar
3,89% do PIB (o ajuste mostra o que seria de esperar do Brasil, quando
se leva em conta a comparação com outros países, usando aquelas duas
variáveis). Assim, não parece que gastamos pouco com saúde. Vamos à
segunda pergunta.
Há escassez de médicos que justifique a facilitação de ingresso de
profissionais formados e credenciados em outras sociedades, com o fim de
atuarem em regiões carentes com baixa oferta de médicos?
Uma forma de responder a essa indagação é verificar se o salário médio
de um médico é elevado. Preço elevado é o sinal mais claro da escassez
de algum bem ou serviço.
Recente relatório do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
sugere que esse é o caso. Faltam médicos no Brasil. No artigo "Escolhas
universitárias e performance trabalhista", assinado pelo presidente do
Ipea, Marcelo Neri, e publicado no documento "Radar", número de 27 de
julho de 2013, há um cuidadoso levantamento da remuneração das diversas
profissões de nível superior.
A partir dos microdados do Censo demográfico de 2010, a tabela 1 da
página 8 da referida publicação documenta que a renda mensal média de um
médico no Brasil em 2010 foi de R$ 8.459, bem acima da segunda
profissão mais bem paga, a de dentista, que foi de R$ 5.367. A diferença
de renda entre a segunda melhor profissão de nível superior e a dos
médicos é de 58%!
Outros indicadores também sugerem que não há médicos sobrando no país. A
pesquisa mostra que a taxa de ocupação é a maior entre todas as 48
profissões de nível superior pesquisadas por Neri. Há, portanto,
indicações contundentes de carência de oferta de médicos no Brasil.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2013/09/1342212-ha-escassez-de-medicos.shtml
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