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Wednesday, 4 December 2013

Só 27% dos médicos sabem reconhecer a sepse, doença que causa 250 mil mortes por ano




O Brasil, ao lado da Malásia, lidera o ranking de mortes pela doença, com 250 mil mortes por ano



Um estudo do Ilas (Instituto Latino-Americano de Sepse) com 917 médicos de 21 hospitais brasileiros (públicos e privados) concluiu que apenas 27% deles sabem diagnosticar corretamente a sepse, conhecida como infecção generalizada. 
 O Brasil, ao lado da Malásia, lidera o ranking de mortes por essa doença, com  250 mil óbitos por ano , segundo pesquisa feita em 37 países em 2005.
A sepse é uma resposta inflamatória exacerbada do organismo a uma infecção. 
Uma infecção urinária, como a que levou à morte a modelo capixaba Mariana Bridi, 20, pode ser curada com um simples antibiótico -o que ocorre na maioria dos casos-, mas também pode evoluir para sepse grave, que, se não diagnosticada logo e tratada corretamente, pode matar.
A chave para o tratamento correto é o médico saber reconhecer se determinada infecção vai evoluir para sepse grave. Por exemplo, se uma pessoa chega ao pronto-socorro com uma infecção e, ao mesmo tempo, apresenta taquicardia e aumento da respiração, o quadro já pode ser crítico, e o médico deve iniciar uma série de intervenções, como hidratação com soro, controle da pressão arterial e antibioterapia.
No estudo do Ilas -baseado na tese de mestrado do médico Murilo Assunção-, os médicos receberam um questionário com casos clínicos diferentes e tiveram de identificar em quais situações eles se enquadravam. A maioria dos profissionais avaliados (92%) soube identificar uma infecção simples e o choque séptico (81%), uma situação extremada de sepse que mata 70% dos doentes. Mas só 27% souberam reconhecer a sepse. A sepse grave foi identificada por metade deles (56,7%).
"Esse desconhecimento é algo muito sério, um problema que acontece todos os dias nos hospitais brasileiros, mas, como não afeta modelos ou pessoas de maior notoriedade, fica invisível", diz o médico Eliezer Silva, vice-presidente do Ilas e médico da equipe da UTI do hospital Albert Einstein.
Segundo ele, o que mais chamou a atenção no estudo foi o fato de que metade dos médicos não soube identificar a sepse grave. "Nessa situação, quando pelo menos um órgão já está em falência ou a pressão arterial está muito baixa, a mortalidade é de quase dois terços. Se o caso não for diagnosticado e tratado corretamente no pronto-socorro, será mais difícil revertê-lo na UTI."
Segundo plano
A médica Flávia Machado, chefe da terapia intensiva do Hospital São Paulo e presidente do Ilas, avalia que a sepse esteja sendo relegada a segundo plano em todos os níveis. "Pelo governo, que não dá o devido valor ao problema, pelo público, que desconhece a doença, e pelos médicos que não são capacitados para reconhecê-la e atrasam o diagnóstico."
Machado conta que um outro estudo, feito em hospital público, mostrou que o paciente pode ficar até dois dias sendo tratado incorretamente -com base em outras hipóteses diagnósticas- até ter a definição de sepse. "Um pouco de soro fisiológico e de antibioterapia dados no tempo correto salva vidas e economiza dinheiro."
Segundo ela, é comum o médico não suspeitar da sepse mesmo quando um paciente apresenta uma disfunção orgânica. "Você pode ter um paciente idoso internado que, de repente, apresenta um quadro de confusão mental. O médico suspeita de delírio hospitalar, que também é bem comum, mas pode ser o primeiro sinal de sepse grave."
O sistema hospitalar brasileiro gasta anualmente R$ 17 bilhões com o tratamento da sepse -sendo R$ 10 bilhões com pessoas que acabam morrendo-, segundo dados do Ilas.
28 de janeiro de 2009
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd2801200901.htm

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