Começa um novo ciclo no setor privado de educação
Desde 2007, quando ocorreu a primeira abertura de capital no setor
brasileiro de educação privada, foram registradas mais de 180 aquisições
de pequenas e médias instituições. Neste ano, o segmento de negócios
educacionais entra em um novo ciclo - o das grandes fusões. Como o que
se viu até agora foi sempre uma empresa comprando a outra, pode-se
considerar a fusão entre Kroton e Anhanguera, anunciada ontem, a
primeira do gênero no setor.
A instituição resultante dessa transação não só será a maior da
América Latina, como também estará entre as maiores empresas
educacionais com fins lucrativos do mundo, com potencial para se tornar
uma Ambev da educação, já que a expansão internacional é uma
consequência natural para empresas que alcançam esse porte. O
conglomerado formado por Kroton e Anhanguera terá cerca de 15% de todos
os alunos do Brasil.
Esse novo ciclo de consolidação do setor está diretamente relacionado
à participação de agentes do setor financeiro na gestão das
instituições de ensino. Dos cinco maiores grupos educacionais
brasileiros, que juntos possuem mais de 1,5 milhão de alunos, quatro são
comandados por empresas do setor financeiro. Entre as 15 maiores
empresas educacionais do País, nove têm um fundo ou banco de
investimentos em sua estrutura de gestão e governança - 60% do total. Ao
contrário do que pensam alguns ideólogos, o setor financeiro trouxe
benefícios para o segmento de educação nos últimos anos, como a melhoria
do nível de gestão das instituições.
Mas como fica a qualidade da educação com essa fusão? Primeiro temos
de lembrar que a educação superior como um todo (pública e privada), no
Brasil, é muito ruim quando comparada com países de mesmo nível
econômico e é péssima quando comparada com países desenvolvidos. A
existência de grandes grupos como Kroton e Anhanguera não diminuiu o
nível de qualidade da educação no País - ao contrário, aumentou. É óbvio
que o aluno egresso da Kroton e da Anhanguera não tem o mesmo nível do
aluno que sai da FGV ou do Insper ou ainda de um ITA ou de uma USP - nem
poderia ter. Nessas instituições, praticamente só entra a elite
intelectual brasileira. Quem vai estudar na Kroton e na Anhanguera
trabalha o dia todo para pagar a mensalidade, e fez ensino médio em
colégio público. É preciso muito esforço para transformar esse aluno em
um profissional preparado para o mercado de trabalho. Como as gigantes
do setor investem mais em gestão, conseguem um desempenho melhor do que o
da maioria das pequenas e médias instituições no Brasil. Ter ou não ter
fins de lucro é algo irrelevante para a qualidade. Cabe ao Ministério
da Educação e ao mercado separar o joio do trigo.
* FUNDADOR DA HOPER EDUCAÇÃO
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,comeca-um-novo-ciclo-no-setor-privado-de-educacao--,1024304,0.htm
No comments:
Post a Comment