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Thursday, 31 July 2014

ENTREVISTA COM DR. SOHAKU (2)

TM: Ainda segundo a UNESCO a MT e a medicina moderna podem coexistir se pontes forem construídas entre elas. Há interesse do país em construir esta ponte? Como está a situação nos outros países?
Doutor Sohaku: Acompanhei o desenvolvimento de políticas governamentais, que incluíram as medicinas tradicionais em alguns países, porém, sempre sob o controle dos sistemas convencionais de saúde. Aqui, no Brasil, a situação não vai ser diferente. Fala-se em interatividade e integração, o que é um sonho, mas a realidade é que as medicinas tradicionais são consideradas complementares ao sistema convencional de saúde.
TM: A proteção da tradição e da identidade dos povos e o respeito à diversidade cultural são direitos de fato?
Doutor Sohaku: Claro que sim.
TM: O Sr. é Cônsul-Geral Honorário do Sri Lanka, país onde existe um Ministério da Medicina Nativa. Um Ministério como este é completamente descabido no Brasil?
Doutor Sohaku: Depende de vontade política. No Sri Lanka, país onde eu também estudei, há a proteção, fomento e aplicação das chamadas medicinas nativas, sobretudo a Medicina Ayurvédica. Esta medicina tradicional existe no país há mais de 5.000 anos e é responsável pelo atendimento de quase a metade da população do país. Devido ao relacionamento secular com a China, a Acupuntura e a Medicina Chinesa cresceram muito no Sri Lanka. O Ministério de Medicinas Nativas do país é uma referencia política de sucesso nessa área, que poderia ser copiada por outros países. No Brasil teria que haver uma forte mobilização para que o governo aceitasse discutir esta questão, mas não podemos nos iludir, o lobby da indústria médico-farmacêutico internacional  joga pesado para que isso não aconteça.
TM: Como está a situação das MTs na região da SEARO (sudeste asiático) e particularmente no Sri Lanka?
Doutor Sohaku: No sudeste asiático existe a mentalidade de preservação cultural, inclusive das medicinas tradicionais. As medicinas ayurvédica, tibetana, chinesa, sidhi, unani, entre outros sistemas de saúde ou racionalidades médicas, enriquecem o atendimento à saúde dos povos dos países desta região.
TM: E na região do WPRO (pacífico ocidental) lembrando que o Sr. é diretor das maiores organizações internacionais de MTC e Acupuntura como a WFAS-World Federation of Acupuncture and Moxibustion Societies e a World Federation of Chinese Medicine Societies – WFCMS?
Doutor Sohaku: Eu sou diretor para o Brasil da WFAS e membro acadêmico da WFCMS, entidades internacionais que tentam estabelecer diretrizes acadêmico-assistencias da prática da Acupuntura, Moxabustão e Medicina Chinesa no mundo . Na Austrália, por exemplo, a Medicina Chinesa é reconhecida e o seu exercício  legalizado.Outros países da região tem um potencial elevado de desenvolvimento nesta área.
TM: Recentemente Austrália e Portugal reconheceram a MTC. A Austrália inclusive reconheceu a Medicina Bush. O Sr. nutre alguma esperança que o Brasil siga o exemplo destes países a curto prazo?
Doutor Sohaku: Após os vetos da Presidente Dilma Rousseff à Lei do Ato Médico e da subsequente Nota Técnica do Ministério da Saúde, surgiu no horizonte político a possibilidade de regulamentação da Acupuntura no Brasil como prática independente das outras profissões da saúde. Agora, vai depender da reeleição da presidente ou não. Particularmente, sem nenhuma dependência partidária, não vejo os outros candidatos apresentados como defensores de políticas de saúde, incluindo a Acupuntura e a Medicina Chinesa. Salvo melhor juízo, é necessário fortalecer e ampliar a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do SUS.
TM: Nas Américas a Nicarágua aprovou a lei de MT em 2011 que beneficiou muitos povos indígenas e afrodescendentes. A nova lei estabelece o Ministério da Saúde para certificar os profissionais e cobra o Estado a agir no sentido de proteção, preservação, promoção, educação, pesquisa e disseminação do conhecimento MT. Conferir estas atribuições ao Ministério da Saúde está correto?
Doutor Sohaku: Ordinariamente, sim. Entretanto, pode haver a necessidade de se criar um órgão governamental para cuidar de assunto tão especializado.
TM: Metade dos hospitais na Noruega oferece MT/MCA. No Japão, 84% dos médicos usam a Medicina Kampo na prática diária. Algum dia, pelo menos a médio prazo, chegaremos a ter esses números?
Doutor Sohaku: No Japão, eu não tenho certeza desse percentual, mas é fato que existe um interesse crescente dos médicos convencionais em aprender as medicinas tradicionais. Quanto ao Brasil, a situação é a de não se respeitar a metodologia diagnóstica e terapêutica da Medicina Chinesa, restringindo-a apenas a condutas adicionais.
TM: A China criou a Aliança Internacional de Medicina Chinesa com objetivo de desenvolver e promover a MT. O presidente da CACMS, China Academy of Chinese Medical Sciences, Prof. Cao Hongxin, foi eleito presidente da instituição. As Federações WFAS e WFCMS fazem parte desta aliança?
Doutor Sohaku: Sim. Tanto a WFAS quanto a WFCMS mantem atividades conjuntas com a CACMS.
TM: O Sr. poderia nos relatar os resultados do THE 2nd BRICS CHINA BRAZIL TRADITIONAL MEDICINE ORGANIZATIONS FORUM ON EXCHANGE, COOPERATION AND DEVELOPMENT?
Doutor Sohaku: Apesar do boicote ao referido evento por parte de alguns dirigentes de instituições de Acupuntura de São Paulo, o mesmo foi muito fecundo e estimulador. Questionaram, de forma ridícula, o uso do termo BRICS pelos membros chineses, porquanto o evento envolvia apenas dois países: China e Brasil. Existem, indivíduos e instituições que, longe de apoiarem eventos os quais beneficiam a todos, torcem pelo não êxito, visando mesquinhas politicagens regionais. Apesar de tudo, contamos com o apoio do governo chinês e de instituições brasileiras presentes. Do evento saiu uma proposta importantíssima, que deveria servir de guia para todos os acupunturistas brasileiros. Trata-se da proposta de uma medicina ecológica fundamentada em conhecimentos milenares de saúde e de bem estar da população mundial.
TM: O 1º Simpósio Internacional de Acupuntura foi realizado em SP em 2011, organizado pela WFAS, CACMS e AMTC, Associação de Medicina Chinesa e Acupuntura Tradicional e teve a participação do coordenador do departamento de Medicina Tradicional da OMS, Dr. Zhang Qi. De acordo com a Dra, Hui Qing, vice-presidente da WFAS, a OMS e aquela Federação desenvolveram a Estratégia 2007-2016 onde entre os principais objetivos estão a educação padrão, estudos clínicos e testes de proficiência em Acupuntura. O Sr. teria mais informações sobre a implementação desta Estratégia?
Doutor Sohaku: Realmente, o evento mencionado enfatizou a Estratégia 2007-2016 da WFAS. O problema no Brasil é que não há um consenso quanto à adoção de padronização da educação e de avaliação do conhecimento. Muitos não querem se submeter às regras internacionais, tampouco apoiar políticas as quais eles entendem não se adequarem aos seus interesses particulares. O bloco médico, o bloco holístico, o bloco conservador, o bloco cientificista etc. são segmentos que não colaboram entre si, resultando em uma colcha de retalhos institucional, que longe de ajudar no crescimento da Acupuntura e da MTC no Brasil, retarda e prejudica a adoção de critérios eficientes de ensino e avaliação do conhecimento. Inseguros em se submeterem aos Exames Internacionais de Proficiência em Acupuntura por medo de reprovação tecem todo tipo de critica ao Exame, que é adotado em mais de 60 países. Apesar deste panorama, os Exames estão ocorrendo anualmente no Brasil e a Estratégia de elevar o nível de excelência no ensino e na prática da Acupuntura está sendo promovida.
TM: Na recente Declaração de Nova Delhi sobre MT os Ministros da Saúde dos países participantes reconheceram que a MT e seus profissionais têm um grande potencial para contribuir para melhorar a saúde do mundo e, especificamente, concordaram em fazer esforços visando prosseguir na abordagem harmonizada para a formação, prática, pesquisa, documentação e regulamentação da MT, bem como envolver estes profissionais nos serviços de saúde. Este exemplo pode ser replicado em outras regiões, como nas Américas?   
Doutor Sohaku: Claro que sim. Depende apenas de pressão dos profissionais e entidades de Acupuntura do país para despertar a vontade política dos governantes.
TM:  É verdade que um protocolo de cooperação em E&P (ensino e pesquisa) sobre Medicina Ayurvédica poderá ser assinado entre o Brasil e o Sri Lanka?
Doutor Sohaku: Sim. O governo do Sri Lanka manifestou a intenção de estabelecer uma cooperação bilateral com o governo brasileiro no sentido de estudar, pesquisar e difundir a Medicina Ayurvédica no Brasil. Na qualidade representante diplomático do Sri Lanka no Brasil, enviei um ofício ao Ministério da Saúde para tal fim, que culminou na criação de uma Nota Técnica do referido ministério, acenando positivamente para a mencionada cooperação.
TM: Há algum tempo o então Ministro da Saúde José Temporão fez uma viagem à China tendo como objetivos aprender sobre o ensino de MTC e buscar uma maior comunicação e cooperação nesta área, além de estabelecer uma plataforma para a MTC e, especialmente, promover o serviço da MTC para o povo brasileiro. Esta viagem rendeu algum resultado prático?
Doutor Sohaku: Desconheço o resultado de tal iniciativa.
TM: Considerando os BRICS, a Índia, além da Medicina moderna, oficialmente reconhece seis sistemas de MT como Ayurveda, Unani e Siddha; na China o governo e os seguros privados cobrem integralmente tanto a Medicina convencional quanto a MT Tibetana, Mongol, Uygur e Dai e os pacientes são livres para escolher entre os tratamentos da MT ou da medicina convencional. O que se pode esperar no Brasil a curto e médio prazo?
Doutor Sohaku: O modelo desses países é bem diferente do nosso. A começar pelo diagnóstico, que hoje em dia nos países ocidentais, incluindo o Brasil, estabeleceu-se  a chamada “medicina diagnóstica” que se tornou um poderoso segmento econômico o qual enriquece empresas e profissionais. Ora, como os diagnósticos das medicinas tradicionais poderiam ser inseridos neste contexto? Francamente, não vejo como isso aconteceria, pois se trata de paradigmas completamente distintos. Quanto à terapêutica, desde que regulamentadas, poderia haver políticas de inserção das medicinas tradicionais no sistema público e privado de saúde, resta saber como. Em relação aos seguros privados, todos eles estão nas mãos dos alopatas, que não vão abrir mão do convencional pelo alternativo. Sinceramente, não vislumbro em curto prazo qualquer mudança desse quadro, a não ser que o governo promova tal iniciativa.
TM: O Brasil foi um dos idealizadores da OMS juntamente com a China e o brasileiro Marcolino Candau foi, por 20 anos, o Diretor Geral da maior agência de saúde do mundo A OMS tem se dedicado às MTs há várias décadas e tem produzido um grande número de publicações como Diretrizes, Parâmetros de Referência e Estratégias Mundiais, além de promulgar muitas Resoluções. A OMS assegura uma abrangente distribuição internacional de seu extenso programa de publicações, que são ignoradas por amplas parcelas da sociedade em nosso país. Essa situação encontra paralelo no resto do mundo? Este é um fenômeno local?
Doutor Sohaku: Não obstante ter sido um brasileiro, também, um dos idealizadores da OMS, o Brasil é um dos países que não leva a sério as diretrizes e recomendações desta entidade, mormente em relação às Medicinas Tradicionais. Alguns países menos desenvolvidos também ignoram regras internacionais na medida em que estas contrariem suas políticas regionais. Os centros acadêmicos de excelência de diversos países acompanham as resoluções da OMS, contudo não tem o poder de estabelecer regras públicas de saúde.
 TM: A Assembleia Mundial de Saúde é o órgão de decisão da OMS; ela determina a política da organização e tem autoridade para adotar convenções, regulamentos e acordos. A Assembléia emitiu resoluções sobre hepatite viral, doença de chagas, segurança de produtos sanguíneos, alimentação de lactantes e crianças, SARS, HIV/SIDA, DNTs, farmacovigilância, doenças infecciosas, etc. O Brasil tem uma participação ativa na OMS, inclusive propondo resoluções, apesar de não as cumprir, como no caso da MT. Depois de aprovada pela AMS, uma Resolução se torna um compromisso explícito que deve ser cumprido pelos países? É dado a um Estado membro escolher qual (is) Resolução irá cumprir? Eles têm de prestar contas sobre o desempenho, uma vez que aceitaram a Convenção da agência?
Doutor Sohaku: O Brasil como país signatário da ONU deveria, por princípio, adotar as recomendações da OMS, enquanto órgão das Nações Unidas. No entanto, um país pode não adotar regras internacionais, alegando o princípio de independência e soberania. O Brasil, em geral, tem colaborado com a OMS na medida de seus interesses e necessidades, porém no que tange às medicinas tradicionais não dá para se observar um crescimento nessas relações.
TM: A OMS, há cerca de quatro décadas, vem defendendo a reforma e melhoria na educação médica para atender às novas necessidades de cuidados de saúde. Tal necessidade de programas de garantias de qualidade para a educação médica em todo o mundo foi reconhecido pela WFME (World Federation for Medical Education), entidade parceira da OMS desde 1972 e associada à WMA (World Medical Association), à IFMSA (International Federation of Medical Students Associations) e à UNESCO, entre outras. Assim, a WFME desenvolveu Global Standards for Quality Improvement in Basic Medical Education, onde consta na estrutura curricular a interface com as medicinas não convencionais, tradicionais e alternativas. Em 2005 foi lançado o documento Diretrizes da OMS para Garantias de Qualidade na Formação em Medicina Tradicional na região do Pacífico Ocidental (igualmente válidas para outras regiões), diretrizes que são complementares aos padrões internacionais da WFME. Qual foi o impacto de documentos desta envergadura no Brasil? Tiveram alguma repercussão?
Doutor Sohaku: Até agora, nenhum. Esses documentos internacionais ficam nas prateleiras acadêmicas e nas mesas de abnegados, em alguns casos, vão para a lixeira das entidades públicas de saúde. A maioria da população dos profissionais da saúde desconhece tais diretrizes. Não há vontade política para que elas alcancem à ponta do sistema assistencial.
TM: A introdução de medidas para regulamentar a Acupuntura já constava na Resolução WHA44.34, de 1991. Um quarto de século e nada foi feito?
Doutor Sohaku: O Brasil é o país do corporativismo. Nada passa despercebido pelos donos do poder. O corporativismo médico, por exemplo, prejudicou a regulamentação da Acupuntura no Brasil desde o primeiro projeto de lei, ainda dos anos 80. Os políticos são seduzidos pelos lobbies e nada passa no Congresso Nacional sem a aprovação desses segmentos de poder. Vamos acompanhar de perto a tramitação dos projetos de lei que ora tramitam no Congresso Nacional, visando à regulamentação da Acupuntura.
TM: Existe mais de uma dezena de Resoluções da Assembléia Mundial de Saúde sobre MTs; a Resolução WHA29.72 (1976) solicitava incluir em equipes de cuidados primários de saúde o poder de reserva constituído pelos praticantes da Medicina Tradicional; a Resolução da Diretoria Executiva EB63.R4 (1979) determinava realizar medidas adequadas para a regulação e controle de práticas médicas tradicionais. Está completamente fora da pauta das discussões a regulamentação das MTs, a inclusão dos profissionais MT nos cuidados básicos de saúde, os exames oficiais para exercer a atividade, etc. Poderia haver alguma forma de controle de informações sobre MTs, uma vez que documentos de fundamental importância, ao que parece, estão sendo ocultados sistematicamente há décadas?
Doutor Sohaku: A verdade é que o desenvolvimento das medicinas tradicionais pode ameaçar o status quo econômico da medicina convencional estabelecida. Por este motivo é que eles fazem tudo para descredenciarem essas praticas tradicionais perante a sociedade, atribuindo às mesmas a pecha de procedimentos não científicos e perigosos, principalmente se o profissional não for médico. Para eles, ironicamente, até a bruxaria poderia ser aceitável desde que o autor fosse médico...
TM: De acordo com a Dra. Zhang Xiaorui, Coordenadora do Departamento de MT da OMS (2010), tem havido aumento dramático na popularidade das várias disciplinas conhecidas coletivamente como MT ao longo dos últimos trinta anos e, em 2003 foi promulgada a Resolução WHA56.31 exortando os membros a regulamentar a MT/MCA, reconhecer o papel de determinados profissionais tradicionais como um dos importantes recursos dos serviços de cuidados primários de saúde, particularmente em países de baixa renda; promover e apoiar, se necessário, a formação e, se necessário, a reciclagem de profissionais MT; criar sistemas para a qualificação, acreditação ou licenciamento dos profissionais MT e fornecer informações confiáveis sobre MT/MCA, para os consumidores e fornecedores”. Ignoramus et ignorabimus?
Doutor Sohaku: Realmente, a OMS tem apoiado as políticas de atenção básica em saúde que promovem as medicinas tradicionais (MT/MCA) e as integrem aos procedimentos convencionais. Contudo, os países, paradoxalmente, mais carentes não aproveitam os benefícios dessas políticas. A razão? São muitas, a começar pelo poder dos lobbies das indústrias multinacionais de medicamentos, que não querem ver crescer as MT/MCA devido a possível diminuição de consumo de drogas, ou seja, diminuição de seus lucros.
TM: Em 2009 tivemos a Resolução WHA62.13: “Os conhecimentos, tratamentos e práticas das MTs devem ser ampla e adequadamente respeitados, preservados e comunicados e os Estados membros devem estabelecer sistemas para qualificar, acreditar ou licenciar os profissionais das MTs. Ignoramus et ignorabimus II?
Doutor Sohaku: Devido aos problemas já mencionados, é óbvia a dificuldade de alguns Estados-membros seguirem estas recomendações.
TM: Segundo a Resolução WHA56.31 o conhecimento da MT é de propriedade de comunidades e nações onde teve origem e deve ser plenamente respeitado. No entanto, no Brasil alguns advogam que a Acupuntura não tem dono... Ignoramus et ignorabimus III?
Doutor Sohaku: Na qualidade de patrimônio cultural intangível da humanidade, a Acupuntura, salvo melhor juízo, não tem dono, mesmo.
TM: O tema do debate em torno das MTs empobreceu e se restringiu a acupuntura, uma das técnicas da MTC. Sem o conhecimento de Resoluções da OMS, as discussões sobre MTs no Brasil se tornam provincianas e as disputas, paroquianas. Isto encontra paralelo no mundo? Como esta situação pode ser alterada?
Doutor Sohaku: A Acupuntura passou a ser o carro-chefe da MTC no Ocidente, devido a sua introdução na França há quase dois séculos. Na China, todavia, a Farmacoterapia chinesa é mais difundida do que a própria Acupuntura.
TM: Como não há o reconhecimento dos profissionais das Medicinas africana, indígena e asiática, o país teve de importar médicos. Caso tivesse acatado as Resoluções da OMS sobre MTs, o Sr. crê que o apagão da saúde teria acontecido?
Doutor Sohaku: Claro que não. A migração de cientistas e profissionais qualificados de um país para o outro sempre existiu. Vejamos os cientistas europeus, inclusive o Albert Einstein, que foi para os EUA. No Brasil a importação de profissionais competentes de outros países virou tabu. Por quê? CORPORATIVISMOS!
TM: Desde a Conferência de Alma-Ata, que recomendou incluir a classe dos profissionais de medicina tradicional ao lado de médicos, enfermeiros e auxiliares nas equipes de cuidados primários de saúde o país teve 23 Ministros da Saúde e 18 Ministros da Educação, MAS NÃO CRIOU UMA ÚNICA FACULDADE DE MT. O Sr. tem conhecimento de alguém que defende a inclusão destes profissionais nas equipes de cuidados primários? Quem defende a criação de uma nova profissão na saúde?
Doutor Sohaku: No Brasil a regulamentação e a criação de educação formal em uma área estão sempre a reboque dos fatos sociais e profissionais. Lamentavelmente, os lobbies corporativistas e o conservadorismo são os empecilhos. Por isso, o sistema tem dificuldade em aceitar novas profissões no mercado de trabalho.
TM: Seria razoável esperar que neste país as MTs fossem introduzidas, desenvolvidas, regulamentadas, preservadas e divulgadas de acordo com o espírito e letra das resoluções das WHAs?
Doutor Sohaku: Não vejo outra saída.
TM: Ainda de acordo com Alma-Ata: “As pessoas têm o DIREITO E O DEVER de participar INDIVIDUAL E COLETIVAMENTE no PLANEJAMENTO E NA IMPLEMENTAÇÃO de seus cuidados de saúde. Utopia?
Doutor Sohaku: Na prática é utopia, sim. Contudo, não há outra melhor opção a não ser fortalecer a Declaração de ALMA-ATA.
TM: Como parte de implementação da Resolução WHA62.13, a OMS publicou uma série de sete documentos como Parâmetros de Referência para formação em MT: Ayurveda, UNANI, MTC e TUI NA. A OMS esperava que a série servisse de referência para as autoridades de saúde em todo o mundo e que os documentos apoiassem os países no estabelecimento jurídico de marcos regulatórios para a prática das MT/MCA. NINGUÉM sequer menciona tais documentos. Estes documentos servirão como parâmetros para nossos governantes?
Doutor Sohaku: É claro que sim. O trabalho da OMS em defesa e promoção das medicinas tradicionais remonta há mais de 50 anos. O fato de alguns países ignorarem tais recomendações importantes se reflete na baixa qualidade de assistência em saúde da população.

(continua)

NOTA: Informamos que todo o texto deveria ter sido impresso sem diferenças de cores, tamanhos, tipos de letra e etc.

Tuesday, 29 July 2014

ENTREVISTA COM DR. SOHAKU

















 Traditional Medisin foi criado com a intenção de fornecer informações sobre Medicinas Tradicionais baseadas em documentação fidedigna e em fontes primárias.
Neste primeiro ano de existência, Traditional Medisin teve acesso de pessoas de todo o mundo e inicia agora uma segunda etapa na divulgação de informações através de entrevistas com personalidades de destaque na área de MT no cenário mundial.
Professor Doutor Sohaku Bastos, um homem cosmopolita dono de uma visão de longo alcance e uma das referências em Medicina Tradicional no Brasil é o primeiro entrevistado do Traditional Medisin, por David Hruodbeorht.
A seguir, um breve currículo do Doutor Sohaku.
Diretor da WFAS (World Federation of Acupuncture and Moxibustion Societies), membro acadêmico da WFCMS (World Federation of Chinese Medicine Societies) e está ligado ao ensino das Medicinas Tradicionais, Complementares e Alternativas MT/MCA há mais de quatro décadas, sendo o fundador das primeiras instituições e escolas oficiais de Acupuntura e Medicina Oriental no Brasil. É autor de vários livros e possui entre vários títulos acadêmicos como o de Bachelor in Medicine e de Doctor in Acupuncture (Sri Lanka), Formação em Medicina Oriental – Koho, Mestre em Honno- Ryoho e Especialista emEletracupuntura (Japão).  Foi aprovado com nível “A” nos Exames Internacionais de Proficiência e Acreditação profissional pela WFAS/OMS com a titulação de Acupuncture Doctor (China). Dr. Sohaku é membro titular da China Association of Acupuncture and Moxibustion (CAAM) e Membro da Comissão Científica Internacional da Revista Cientifica World Journal of Acupuncture and Moxibustion (WJAM) da State Adminstration of Traditional Chinese Medicine da Republica Popular da China.
Doutor Sohaku é Cônsul-Geral Honorário da República Democrática Socialista do Sri Lanka para os Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo; Vice-Presidente da Federação das Câmaras de Comércio Exterior/Confederação Nacional do Comércio; Diretor da Associação Brasileira de Educação; Diretor Institucional da Faculdade São Judas Tadeu; Ex-Conselheiro de Estado de Educação do Rio de Janeiro e Membro da Câmara de Ensino Superior e Profissional; Relator da primeira legislação educacional de Acupuntura e Terapias Naturais do país – Deliberação CEE/RJ nº 270/2001; Ex-Vice-Presidente da Comissão de Educação à Distância do Estado do Rio de Janeiro; Ex-Chanceler para América do Sul e Reitor para o Brasil da "The Open International University for Complementary Medicines"; e Ex-Juiz Classista Federal do Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região. Doutor Sohaku é, também, Mestre em artes marciais: 7º Dan de Jiu-Jitsu, 2º Dan de Judô e 9º Dan de Karatê.

Traditional Medisin: O Sr. pode contar em que bases foi construída sua trajetória de sucesso?
Doutor Sohaku: O meu trabalho teve início há mais de 50 anos, quando entendi que o que eu estudava e trabalhava no Brasil não estavam de acordo com os meus sonhos. Construí a minha trajetória de vida fundamentada em valores que adquiri em minha infância e juventude nos anos 40 e 50 em contato com imigrantes japoneses com os quais iniciei as práticas do Judô, Jiu-Jitsu e, posteriormente, o Karatê. Entretanto, em 1957, ao ler o livro ”A Luz da Ásia”  fiquei fascinado com a riqueza espiritual do Budismo. Inicialmente, desenvolvi interesse sobre o Zen-Budismo por sua afinidade com as artes marciais japonesas, e depois pelo Budismo Shingon, por sua conotação de cura espiritual, tornando-me monge budista em 1973, ordenado no Japão. A Medicina Oriental entrou em minha vida no final dos anos 50, quando meu professor de Judô me indicou um acupunturista japonês para tratar de uma lesão muscular. O acupunturista que me atendeu trabalhava clandestinamente, pois ninguém sabia o que era Acupuntura na época. Eu fiquei tão surpreso com o tratamento que pedi para ele me ensinar àquela técnica fantástica. Obviamente, eu era muito jovem para estudar Acupuntura, porém, o mesmo me deu uma preciosa orientação, que foi para eu ir estudar no Japão. Após a fundação de minha primeira academia de Karatê no Rio de Janeiro (Shidokan), em 1964, resolvi procurar alguma literatura sobre o assunto. Pouca coisa existia, na ocasião, apenas dois livros em francês. Poucos anos depois, conheci o Prof. Yoshishige Okai, que visitou minha academia, e eu, em retribuição, visitei o seu consultório de Acupuntura e Shiatsu. Ali começava a minha trajetória na Medicina Oriental. O Prof. Okai, docente formado na Escola Imperial de Medicina Oriental do Japão com o famoso mestre Ryuho Okuyama, aceitou-me como discípulo e, poucos anos depois, enviou- me para o Japão para estudar a Medicina Oriental com seus mestres. Após a minha primeira formação no Japão, no início dos anos 70, juntamente com o Prof. Okai, retornamos ao Japão para nos especializarmos em Eletroacupuntura, Seitai, Osteopatia e Honnô-Ryoho. Assim, ficamos vinculados às entidades japonesas de Acupuntura, Shiatsu e Medicina Oriental. Nos anos 80 e 90, porém, eu tive acesso como aluno a outras entidades educacionais da China, Sri Lanka, e Estados Unidos. Por obra divina, conheci grandes mestres aos quais eu reverencio até hoje e agradeço por tudo que fizeram por mim.

TM: : De acordo com a definição oficial da OMS: “Medicina Tradicional é a soma total do conhecimento, habilidades e práticas baseadas em teorias, crenças e experiências de diferentes culturas, explicáveis ou não, utilizados na manutenção da saúde, bem como na prevenção, diagnóstico, melhoria ou tratamento de doenças físicas e mentais”.
E segundo a agência mundial de saúde, os mais antigos sistemas terapêuticos existentes para a saúde e o bem-estar, chamados de Medicina Tradicional ou Medicina Alternativa e Complementar (MT/MCA), quando corretamente praticados, podem ajudar a proteger e melhorar a saúde dos cidadãos. No entanto, devem ser consideradas as questões de segurança, eficácia e qualidade-a base da defesa do consumidor, o que não é diferente, em princípio, do que sustenta a moderna prática médica.
Manter as exigências básicas para a prática das MT/MCA pode ajudar as autoridades nacionais de saúde no estabelecimento de leis adequadas e regras de licenciamento?
 Doutor Sohaku: As políticas públicas de saúde envolvendo as chamadas “Medicinas Alternativas”, posteriormente, denominadas “Medicinas Tradicionais e Complementares” foram estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), inicialmente, em 1962, e depois, em 1978, durante as Conferências Internacionais de Cuidados Básicos em Saúde, que ocorreram na cidade de Alma-Ata, no Cazaquistão Soviético. Durante esses eventos ficou entendido que essas medicinas milenares deveriam ser resgatadas para atender a um expressivo segmento populacional de países pobres ou em desenvolvimento. Lamentavelmente, tais países não albergaram as práticas tradicionais de saúde nos anos subsequentes aos eventos mencionados, prevalecendo o atendimento com a medicina convencional por vários motivos. O primeiro foi a dificuldade dos ocidentais em conceberem as tradições médicas milenares. Os ocidentais foram, também, influenciados pelos lobbies da indústria farmacêutica, que divulgavam que as medicinas tradicionais não curavam, apenas controlavam os sintomas. Os outros motivos foram relacionados à carência de boa formação de profissionais e de políticas governamentais, que visassem baratear o custo de cuidados em saúde. Decisivamente, não havia, nem há atualmente, interesse mundial em promover saúde, mas sim curar doenças, uma vez que saúde não dá lucro financeiro, enquanto que curar doença, pelo contrario, alimenta uma estrutura médico-hospitalar-farmacêutico, que se apresenta na mídia e se fortalece na mente dos profissionais como soluções no atendimento à saúde publica que, por sua natureza, é elitista e excludente.
As autoridades públicas em saúde de diversos governos deveriam conhecer os benefícios reais das Medicinas Tradicionais para poder melhor promovê-las. Muitas dessas autoridades desconhecem as recomendações da OMS. Por este motivo, muito do que poderia ser aproveitado para o atendimento à população é ignorado.
TM: Os consumidores têm noção de seus direitos?
Doutor Sohaku: Os consumidores ficam assim classificados: não havendo promoção das Medicinas Tradicionais no serviço público, a população mais carente não tem acesso a este serviço. Por outro lado, a população abastada, pagando altos preços de tratamento no segmento privado, acessa com facilidade os tratamentos das Medicinas Tradicionais. Infelizmente, os direitos do cidadão, em geral, não são respeitados.


TM: De acordo com a OMS as MTs possuem fortes raízes históricas e culturais, sempre desempenharam um papel fundamental na saúde mundial e continuarão a ser utilizadas para tratar uma vasta gama de condições e doenças; estima-se que entre 70 e 95% dos cidadãos nos países em desenvolvimento dependam das MTs para cuidados primários de saúde. Muitas vezes nas áreas rurais, os medicamentos fitoterápicos, os tratamentos tradicionais e os profissionais tradicionais são a principal - às vezes a única - fonte de cuidados de saúde. Existem dados confiáveis sobre as MT, seus produtos, suas técnicas e seus profissionais, no Brasil?

Doutor Sohaku: Desconheço a existência, no Brasil de dados confiáveis quanto à qualidade de produtos e serviços em Medicina Tradicional. Entretanto, em outros países, geralmente do primeiro mundo, apresentam-se resultados positivos nesta questão. Realmente, no interior do Brasil e de outros países carentes, as plantas medicinais e outros recursos mais simples e de baixo custo são os tratamento mais indicados.

TM: A despeito dos progressos incessantemente alardeados, das inovações técnicas nos diagnósticos, nos tratamentos clínicos e nas aplicações de descobertas da ciência básica pela medicina moderna, as MT têm atraido cada vez mais pessoas. O uso das terapias complementares e alternativas se tornou uma indústria multi-bilionária que tende a continuar em franco crescimento. Quais os cuidados que devem ser tomados para evitar que a MT fique proibitiva ao homem pobre, uma vez que as MTs entraram no mercado da saúde?    
Doutor Sohaku: Paradoxalmente, o crescimento das Medicinas Tradicionais no campo financeiro contraria o preconizado pela OMS quanto ao atendimento prioritário aos pobres de países e povos. As Medicinas Tradicionais, outrora Alternativas, conquistarem um grande segmento populacional nos Estados Unidos, resultando em milhões e milhões de dólares anuais envolvidos em assistência, educação, produtos etc. Assim também vem ocorrendo em outros países. Contudo, friso por necessário, que o resgate dessas medicinas deve passar pela ética social do atendimento aos mais necessitados.
TM: O aumento da utilização das MTs é alimentado por uma fé crescente nos “produtos naturais” como intrinsecamente bons e seguros, fé que é facilmente explorada comercialmente, mas mais difícil de explorar quando a MT está nas mãos de profissionais devidamente treinados, experientes e licenciados.  Isto se aplica também ao Brasil?
Doutor Sohaku: Nem tudo o que é natural é bom e é seguro. A máquina comercial, visando apenas lucro, não pode estar acima do bem social. Obviamente, os profissionais bem qualificados distinguem muito bem aquilo que funciona daquilo que não serve, não cura, não é seguro, e que põe em risco a credibilidade assistencial.
TM: Para a UNESCO, não discriminação contra a MT implica reconhecê-la e respeitar os direitos dos profissionais tradicionais. Há discriminação contra as MTs? E contra seus profissionais? Qual é a situação no meio governamental, acadêmico e junto à população?
Doutor Sohaku: A UNESCO, como órgão das Organizações das Nações Unidas (ONU), teve o papel de reconhecer a Acupuntura e Moxabustão da Medicina Tradicional Chinesa como Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade. Assim sendo, não há como haver discriminação das Medicinas Tradicionais. Há um hiato, um verdadeiro abismo, entre o que órgãos internacionais, como a OMS e a UNESCO, fomentam e preconizam, e o que alguns governos estabelecem em suas políticas públicas de saúde. Qualquer discriminação em relação às Medicinas Tradicionais é fruto de deplorável ignorância.
 

CONTINUA...


University of Haifa - "Light pollution" and cancer

Judy Siegel-Itzkovich

Increasing concern that “light pollution” caused by artificial lighting that reduces the production of the hormone melatonin by the brain’s pineal gland can cause cancer and other diseases has led to new research into which types of electric bulbs cause less potential risk.
Now a University of Haifa researcher and his colleagues who are participating in an international study of the subject have found that nighttime exposure to white-light-emitting diode bulbs – which are actually blue light on the spectrum – commonly used both in outdoor and some indoor lighting suppresses the beneficial hormone’s production five times more than does high-pressure sodium bulbs that emit an orange-yellow light.
Prof. Abraham Haim, with scientists from Italy and the US, just published findings on the subject in the Journal of Environmental Management in an article titled “Limiting the impact of light pollution on human health, environment and stellar visibility.”
The researchers said that since civilization is obviously unwilling to return to the caveman era and live in darkness when the sun goes down, efforts can be made to minimize exposure at night to types of illumination that reduce melatonin production.
“Just as there are regulations and standards for ‘classic’ pollutants, there should also be regulations and rules for pollution stemming from artificial light at night,” said Haim, head of the University of Haifa’s Center for Interdisciplinary Chronobiological Research and the Israeli partner in the research.
(...) From this comparison, it became clear that the metal halide bulb, which gives off a white light and is used for stadium lighting and many other uses, suppresses melatonin at a rate more than three times greater than the HPS bulb, while the LED bulb, which also gives off a white light, suppresses melatonin at a rate more than five times higher than the HPS bulb.
“The current migration from the now widely-used sodium lamps to white lamps will increase melatonin suppression in humans and animals,” the researchers say. Melatonin, a compound that adjusts our biological clock and is known for its antioxidant and anti-cancerous properties(...).

Unless legislation is updated soon, with the current trend toward sources as white LEDs, which emit a huge amount of blue light, we will enter a period of elevated negative effects of light at night on human health and environment. Lamp manufacturers cannot claim that they don’t know about the consequences of artificial light at night,” says Dr. Fabio Falchi of ISTIL.
“As a first step in Israel, for example, the Standards Institution of Israel should obligate bulb importers to state clearly on their packaging what wavelengths are produced by each bulb. If wavelength indeed influences melatonin production, this is information that needs to be brought to the public’s attention, so consumers can decide whether to buy this lighting or not,” Haim added.
The University of Haifa researcher declared in 2008 that exposure to light at night is the most powerful factor in breast cancer besides genetic defects.
Other studies have implicated it in prostate cancer and the development of nearsightedness in children, eyestrain, headaches and sleep disorders.

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